Maria Callas: vida, obra e joias
As joias que compuseram o icônico acervo de Maria Callas e as joias usadas por Angelina Jolie, no filme Maria
Meu interesse por Maria Callas começa pela fofoca e cresce pela arte. Tudo teve início pelas histórias dela e de Jackie Kennedy Onassis (primeira-dama do presidente americano JFK, assassinado em 1963) terem se cruzado. Jackie (ao lado de Grace Kelly e Audrey Hepburn) está na minha lista de mulheres incontestavelmente elegantes. Querendo conhecer mais sobre seu estilo e suas joias, eu me deparei também com as histórias de sua vida amorosa conturbada, seu romance com Aristóteles Onassis, que me levou até a figura de Maria Callas.
Aí entra meu especial interesse por arte, que me envolveu na história de Callas. O que mais me fascina nesse mundo da arte é desvendar os significados que habitam nos seus detalhes mais sutis: na escolha de uma cor para a pintura, na posição do objeto que foi retratado, na intenção de cada escolha. A história de Maria Callas me abriu os olhos para o mundo da ópera e suas narrativas que carregam tanta carga emocional e histórica.
Se você ainda está se perguntando “afinal, quem é esta Maria Callas?”, esta é uma versão super resumida da sua história: ela nasceu em 1923, em Nova York, em uma família de imigrantes gregos. Sua infância foi marcada por dificuldades e por uma relação complicada com a mãe, que a pressionava para cantar.
De jovem cantora promissora, ela se torna uma das maiores estrelas da ópera do século XX, tornando-se mundialmente famosa por sua voz única, sua técnica, e também por sua presença cênica, pelo forma emocional e carismática com que interpretava seus papéis na ópera.
Sua vida pessoal e amorosa foi um tanto dramática, mas eu considero que a todo tempo ela manteve seu ar de grande diva e as joias desempenharam um grande papel na criação de sua personalidade glamorosa durante sua ascensão ao estrelato.
Hoje vamos falar sobre a coleção pessoal de joias de Maria Callas e também sobre as joias que apareceram no filme Maria, recém lançado, em que o papel de Maria Callas é interpretado pela Angelina Jolie.
O mundo da ópera tem um quê de conto de fadas, seus cenários, figurinos, e também tem a extravagância, não é mesmo? As joias de Maria Callas acompanham esta descrição. Eram maravilhosas, com a delicadeza das gemas perfeitamente escolhidas e designs suntuosos, como a coleção de uma rainha. Isso vale tanto para as joias que ela usava no palco, quanto para as que ela usava na vida.
Callas teve um relacionamento intenso e conturbado com Onassis por aproximadamente 10 anos, até ele se casar com Jackie Kennedy, em 1968. Mas há indícios de que eles continuaram se encontrando até a morte dele, em 1975. Para adentrar na sua coleção, vale a pena citar o episódio em que, durante uma entrevista, Callas alfineta Aristóteles Onassis, dizendo que todo seu conhecimento sobre as mulheres poderia ser resumido em um catálogo da Van Cleef & Arpels.
Um belo tapa na cara, mas de uma mão cheia de brilhantes. Ela diz que ele é muito simplório, que ele não sabe muito sobre mulheres, além de dar joias? Sim. Mas diz também que ele sabe agradar, não é? Que mulher não adoraria estar coberta por joias? Pelo jeito as canalhices que ele precisava compensar não saíam muito baratas.
Uma boa parte de sua coleção foi presente de Onassis. Mas, talvez, ela tenha recebido ainda mais joias de seu primeiro marido, Giovanni Battista Meneghini, um industrial italiano.
Nos palcos e na vida, Maria Callas estava sempre com suas joias icônicas. Em seu acervo, os destaques são para joias da Van Cleef & Arpels, Cartier e Harry Winston. Ela era uma especialista em usar o poder das joias para articular força, beleza e drama.
A clássica combinação de rubis e diamantes era sua favorita. Dentre os pedidos especiais que a Van Cleef & Arpels criou para ela está seu broche de cinco folhas de diamantes e rubis.

Um colar ondulado, com pulseira combinando e um par de brincos estilo botão, todos em rubis e diamantes, tornaram-se uma das assinaturas de Callas. Eles foram um presente de Meneghini, vendidos pelo conjunto do joalheiro milanês Faraone, mas provavelmente criados por Harry Winston.
Sua coleção da Cartier inclui uma pulseira, de diamantes e cinco rubis birmaneses e também um broche com um único rubi birmanês com um impressionante cabochão de 30 quilates no centro.
Uma joia menos óbvia, é a sua bolsa de ouro e diamantes feita pela Van Cleef & Arpels. Interessante, não é? Às vezes pensamos que joias são apenas colares, brincos e anéis, mas, nesse caso, essa bolsa se enquadra no conceito de joia de forma perfeita: um adorno feito em metal nobre e gemas preciosas.
As pérolas também eram uma marca de Callas, seja em designs bem clássicos ou até mesmo em versões ousadas, como neste colar abaixo, de três fios da Van Cleef & Arpels, com a figura de um leão.
Outras duas joias icônicas, criadas pela Cartier, que compunham o porta-joias de Callas: o broche de Rosa da Cartier, confeccionado em ouro, platina, diamantes, esmeraldas, safiras e rubis, que apresenta um mecanismo exclusivo que permite que as pétalas sejam abertas e fechadas; e também o broche de Pantera da Cartier, um dos itens mais emblemáticos da coleção de Maria Callas, feito de ouro, ônix e com olhos de esmeralda
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Você deve ter se perguntando aonde foram parar essas joias após sua morte. Uma parte de sua coleção foi destinada a seu ex-marido, sua mãe e uma enfermeira. A outra foi leiloada pela Sotheby's, em 2004. Sabemos agora que parte desse acervo leiloado foi comprado pela Cartier e reaparece no filme Maria.
As joias do filme Maria
O filme Maria, estrelado por Angelina Jolie e dirigido por Pablo Larraín, retrata a vida de Maria Callas, explorando suas lutas pessoais e profissionais. Gostei deste filme? Não. O filme retrata os últimos dias de Maria Callas, em 1977, antes de sofrer um ataque cardíaco. Apesar de ter achado a produção bonita (figurinos, sua fotografia e a trilha sonora), é uma pena a forma como Maria Callas foi retratada: amarga, fechada, solitária, decadente e alucinando por conta de suas medicações. O filme diz muito pouco sobre quem teve uma história tão grandiosa a ser contada.
Eu assisti muito interessada em ver como sua belíssima coleção de joias seria retratada. Valeu para esta finalidade. As joias da Cartier que pertenciam ao acervo de Maria Callas e aparecem no filme são originais.
Mas esta produção tem uma aura totalmente diferente do documentário Maria by Callas. Este sim eu amei. Ele exalta seu talento, disciplina e sensibilidade, é baseado em imagens de arquivo, entrevistas, trechos de apresentações e suas próprias cartas, suas próprias palavras, a vida sob a sua perspectiva. Ele apresenta Callas não apenas como um ícone da música, como uma figura marcante e poderosa dos palcos, mas sua versão “Maria”, uma mulher sensível, que desejava uma vida simples em família.
Um parênteses para exaltar duas coisas que me chamaram muito a atenção quando assisti ao documentário: como a ópera era popular (em parte devido à própria figura de Callas), vemos pessoas comuns, simples, passando dias na fila para conseguir estar presente em uma apresentação da La Divina.
Além disso, fiquei pensando sobre como perdemos a capacidade poética, de analisar nossos sentimentos e vivências sob uma ótica que vai além da mera descrição objetiva dos fatos. As cartas de Maria Callas, mesmo as mais sofridas e dramáticas, não soam como reclamação enfadonha, ela fala sobre seus sentimentos de forma profunda e poética, fazendo com que tudo seja agradável de ser ouvido.
Agora, voltemos às joias usadas por Angelina Jolie. Como eu disse, boa parte das joias do filme são originais. Já na estreia do filme em Cannes e Veneza, Jolie apareceu com o broche de Pantera da Cartier e também com o broche de Rosa, prestando um tributo à memória de Maria Callas.
Durante as cenas, vemos joias reais do acervo de Callas, como o broche de Pantera, o broche de rubi da Cartier e o broche de Rosa. Aparecem também réplicas de outras joias, como seu memorável colar de rubis e diamantes. Essas joias reais não apenas ajudam a capturar o glamour de Maria Callas, mas também servem como metáforas visuais para sua força e a complexidade de sua vida, conectando a personagem de Callas ao seu legado.
Você assistiu ao filme? Vou adorar saber o que você achou dele. Além disso, as joias de qual outra produção você gostaria de ver por aqui?